Lancia Flavia - Italiano Refinado 13 anos de sucesso
Diferente no design e refinado ao nível de mecânica, o Lancia Flavia conquistou muitos "tiffosi" durante os seus 13 anos de vida. Por forma a ocupar o vazio existente entre o pequeno modelo Appia, já envelhecido, e o grande Flaminia, a Lancia lançava em 1960, no Salão de Turim, o sedan de quatro portas de nome próprio Flavia.
Em 1907, um piloto de corridas que trabalhava na Fiat, de nome Vincenzo Lancia, construiu a sua própria fábrica de automóveis, em Turim. A Lancia nascia, e durante boa parte do século passado, construiu carros distintos e eficazes, com um enorme sucesso em competições automóvel, espalhando o seu nome um pouco por toda a Europa.
Projectado por Antonio Fessia, que já tinha participado nos projectos dos famosos Fiat 500 Topolino e Fiat 600, o Flavia vinha equipado com o motor dianteiro, de quatro cilindros horizontais opostos refrigerado a água, tinha 1.500 cc de cilindrada, duplo comando de válvulas à cabeça, um carburador e debitava 78 cv de potência às 5.600 rpm. Era o primeiro Lancia, e um dos primeiros automóveis italianos com tracção dianteira e uma caixa de quatro velocidades todas sincronizadas.
Por ser um carro de quase 1.200 kg, as suas performances não eram entusiásticas, com uma velocidade máxima de uns moderados 148 km/h. Mas o comportamento dinâmico deste modelo era bastante bom: o carro era estável, confortável e muito seguro, graças aos quatro travões a disco com duplo circuito hidráulico e uma suspensão dianteira independente, com feixe de molas transversal, e a traseira, de eixo rígido, com feixe de molas longitudinais.
O Flavia tinha uma secção dianteira, no mínimo, curiosa. Dois faróis redondos de cada lado, separados por uma grelha em trapézio invertida, conferiam-lhe um design que fazia lembrar uns olhos arregalados!! Por baixo dos grupo óptico, estavam colocadas as luzes de mudança de direcção com proporções que dividiam a opinião do público e dos críticos. Visto de perfil, o design era clássico e não trazia grandes surpresas.
Ao nível do interior, o Flavia era espaçoso e despretensioso, com capacidade para alojar confortavelmente seis pessoas. Um enorme volante com dois raios e com o aro da buzina cromado, saltavam à vista, bem como, a maneta da caixa de velocidades posicionada na coluna de direcção.
Mas era ao nível do painel de instrumentos, oblíquo por sinal, que o Flavia se destacava... Senão vejamos: vinha equipado com um velocímetro de escala horizontal, conta-rotações, relógio, indicadores de temperatura e de nível do tanque de combustível, de 48 litros, entre outros. Não se tratava de um carro barato! Na época, os seus concorrentes em Itália eram, ao nível do preço, o Fiat 1800, bem maior que o Flavia, e o Alfa Romeo Giulia Super. Na França, fazia frente ao Citroën DS e na Alemanha ao famoso BMW 1800.
Em 1962, era apresentado por Pininfarina um coupé de design lindíssimo, baseado na versão sedan. Tratava-se de um 2+2 lugares, com 10 centímetros de comprimento a menos. Só que o motor de 1,5 litros, com um carburador de corpo duplo Solex, fazia render 90 cv de potência às 5.200 rpm. Era mais leve, 1.120 kg, e também mais veloz: atingia uma velocidade máxima de 174 km/h. Foi com a chegada desta variante ao mercado, que a Fiat acabou por desenvolver um atraente cabriolet que vinha completar a gama...
Também interessante foi a apresentação do Flavia Sport 1.5, um coupé desenvolvido no mesmo ano por Zagato, outro famoso "estilista" de carroçarias independente italiano e autor de carros controversos, no que se refere a estilo.
Com uma carroçaria toda em alumínio e um design muito aerodinâmico, o coupé de Zagato primava pela originalidade, audácia e beleza. A referir, que os coupés desenvolvidos pelos famosos designers não eram produzidos na mesma fábrica do modelo quatro-portas, na cidade de Chivasso, a leste de Turim, mas sim nos próprios ateliers.
Um ano volvido, e a marca italiana disponibilizava como opcional, o motor de 1.8 litros, de 92 cv por forma a aumentar a já vasta gama. Dois anos depois, todos os modelos equipados com o motor 1,8, inclusive o quatro-portas, dispunham de injecção directa mecânica Kugelfischer como opcional. A sua potência passava a debitar 102 cv de potência e o sedan tinha o rendimento sensivelmente elevado. A velocidade máxima do coupé e do cabriolet passava a atingir a fasquia dos 180 km/h, nos carros construídos por Pininfarina, e 188 km/h no coupé desenvolvido por Zagato.
Em 1967, o Flavia sofria alterações estéticas... ganhou novos capot, grelha dianteira e novos grupos ópticos. Estava com um "look" mais moderno, mais simpático e... mais comum. Mas o charme perdurava. A secção traseira também tinha sido totalmente remodelada, com ópticas rectangulares colocadas um pouco acima do pára-choques. No interior, todo o painel sofria modificações, com mostradores redondos e com novo design. A direcção assistida juntava-se à lista de equipamentos opcionais. A maneta da caixa de velocidades, anteriormente posicionada na coluna de direcção, passava agora para ochão e a Fiat disponibilizava ainda bancos dianteiros separados, com acabamento em couro ou veludo.
No mesmo ano, a marca completava 60 anos e os seus modelos de luxo festejavam esta data através da inserção em números romanos, do logotipo LX na traseira. O Flavia também ganhou mais fôlego graças ao novo motor de 2,0 litros. Podia vir equipado com carburador (114 cv) ou injecção (126 cv), para uma velocidade final de 175 e 180 km/h, respectivamente. Os modelos Zagato Sport e Pininfarina cabriolet cessavam a sua produção.
Em 1969, por dificuldades financeiras, o Grupo Fiat passava a controlar a Lancia. Em Abril de 1971, o Flavia abandonou a sua nomenclatura e dada a introdução do novo motor de 2,0 litros e a pouca procura dos outros modelos de menor cilindrada, denominava-se agora Lancia 2000 e 2000 IE. A injecção passava a ser electrónica da Bosch e o Flavia, perdão o 2000, recebia uma caixa de cinco velocidades, tal como se quer em um verdadeiro italiano, e ficava mais veloz.
Mais uma vez toda a carroçaria era modificada e o 2000 tomava formas que faziam viajar no tempo... Na secção dianteira, mudaram os faróis, a grelha e os pára-choque sendo que a parte central desta estava mais identificada com o famoso desportivo Aurelia da década de 50. A traseira, também remodelada, era muito semelhante ao seu irmão mais novo, o Fulvia. Por dentro, o painel modernizou-se, com mostradores quadrados, apliques de madeira e um volante também de madeira de dois raios.
Em 1973, depois de 80.164 unidades produzidas, cessava a produção deste modelo ainda hoje reconhecido como um automóvel refinado, tanto a nível estético, quanto ao nível de mecânica.
Fonte: Motores
Automóveis Clássicos